terça-feira, 2 de dezembro de 2008

SEIS ANOS E MEIO

Tudo começa numa manhã clara, porém fria, de julho. Nosso herói (Celso) levanta-se pontualmente as sete da amanhã, e põem seus chinelos. Depois de mais uma noite igual às outras sem nada de especial, escova seus dentes como de costume e coloca sua roupa para o trabalho. Está atrasado como de costume, pega uma maçã grande e bem vermelha e vai comendo-a pelo caminho. Pega o ônibus das sete e quarenta e cinco, como tenha feito todos os dias úteis de sua vida nos últimos seis anos e meio. Chega em seu escritório e pontualmente, e vai direto a maquina de café, pegar seu mokatino com bastante açúcar, como faz todos os dias úteis de sua vida nos últimos seis anos e meio. Nada acontece de inusitado, Celso não encontra aquela que seria o amor de sua vida, Celso não salva um garotinho de ser atropelado por um ônibus.
Após um dia rotineiro de trabalho, sai de sua salinha, vai até a maquina de café, e pega outro mokatino, apanha sua pasta, e volta para casa. No caminho passa por um padaria onde compra dois pães, queijo, e presunto, o que seria sua janta. Assim faz todos as terças-feiras de sua vida nos últimos seis anos e meio. Chega em casa, e não tem nenhuma carta de alguma admiradora secreta de baixo de sua porta. Após entrar em seu apartamento, faz o que sempre faz, e vai dormir sozinho, finalizado mais um dia igual a todos os outros de sua vida dês de que saio de casa para trabalhar na cidade grande há seis anos e meio.
Quando acorda naquela quarta-feira nublada, sem te como se nada de mais fosse acontecer, assim como nos últimos seis anos e meio de sua vida. Porém Celso estava totalmente errado. Depois de por os chinelos, as sete da manhã, escovar seus dentes, colocar seu terno para o trabalho e de pegar a última maça do cesto, dirige-se para o elevador de seu prédio onde se depara com uma linda loira de olhos azuis e cabelos levemente ondulados. Sente-se estranho, pois nunca tinha visto aquela moradora, talvez seja por que nunca havia comparecido as reuniões dos moradores do prédio e nunca tinha se relacionado com algum deles. Ela pergunta espontaneamente as horas, e afirma em seguida, que estava atrasada. Por algum motivo estranho, aquela desconhecida começa lhe contar de sua vida, como se fossem por muito tempo amigos. Diz que trabalha muito, sai de casa muito cedo, chega tarde, e passa os finais de semana em Santa Horta, uma cidadezinha vizinha onde moram seus pais. O que explicava nunca terem se visto, afinal seus horários nunca se cruzavam.
Quando chega no trabalho e vai como de costume para a maquina do café, ao invés de pensar no que tinha para fazer em seu escritório, como fazia há seis anos e meio, em todos os dias úteis de sua vida, o protagonista só conseguia pensar na irreverência daquela moça jovem e bela a qual ele havia conhecido naquela manhã de julho. Vai para sua sala e quase não consegue se concentrar, pois as lembranças de cada parte de seu corpo, dos detalhes de seu sorriso, seu cabelo sedoso, e sua voz, aquela voz que ele gostaria de ouvir toda vez que acordasse de manhã, e disse-se a ele um simples “bom dia”. Pensou que pela primeira vez em seis anos e meio teria a oportunidade de ser feliz, e sair daquela depressiva rotina.
Sai do escritório mais feliz do que de costume, afinal, estava decidido que depois de seis anos e meio trancado em um casulo que ele mesmo criara, finalmente viveria sua vida.
Iria vigiar o horário que ela saia todos os dias, para poder coincidir seus horários de saída, e assim ter mais oportunidades de encontrar ela. Compraria flores para ela. A agradaria com chocolates, e diria a ela como seu lindo sorriso fazia sua manhã melhor.
Porém nenhum de seus planos pode ser concluído, já que, logo de saiu do prédio empresarial onde trabalhava, vê um menino que acabara de cair de bicicleta no meio da rua, e corre para salvá-lo, e assim que empurra o menino para fora da rua, um ônibus o acerta, arremessando-o por mais de três metros e o matando na hora, impedindo que realizasse algo de diferente de sua rotina diária de seus últimos seis anos e meio de vida.
Pelo menos o que me conforta, caro leitor, é que o último ato de Celso foi fora de sua sufocante rotina, que o envolvia depressivamente a muito tempo, fazendo-o morrer de um modo completamente diferente do que ele já havia feito nos últimos seis anos e meio de sua pacata vida.

2 comentários:

Mari Gil disse...

Tenho a impressão que eu já li esse texto em algum lugar...O.õ
é teu? será que tu me mandou ele algum dia?

É, meu amigo...maldita rotina, que nos derruba...=/

Eu tenho aquela vontade louca de não ser mais uma no meio da multidão, presa a uma rotina sem graça e esperando pela morte...

quero estar na luz, sempre descobrindo coisas novas!

Paulo Prates Jr. disse...

Legal esse teu texto, apesar do fim trágico. A rotina é algo que pode ser transformada em uma coisa boa e agradável, ou muito ruim. Escrevi um texto sobre isso. Segue abaixo


Insônia

Alvorada festiva com o canto dos bem-te-vis. É o início da jornada. A correria do nosso dia, muitas vezes nos impede de refletirmos, compartilharmos, praticarmos. Pouco conversamos, pensamos, criamos. E a vida segue lá fora. Hora do almoço! Hum! Intervalo. E os robôs seguem suas rotinas. No fim da tarde, o chimarrão amigo, pra contarmos tudo o que repetimos novamente. Chega à noite e eu me aprumo. Estou cansado. Mas dormir como? Nessa correria de mais esse dia, as inspirações brotam entre minhas células nervosas. Sim, elas estão nervosas! E, mesmo com o sono atrasado, produzo. E fico pensando no momento seguinte, que os bem-te-vis me acordarão, pra mais do mesmo.